Se lhe perguntarem o que é o Design Social, provavelmente não saberá o que responder.
Pense em projetos que promovem mudanças na sociedade, e, por conseguinte, tornam o designer uma peça fundamental e responsável por mudanças sociais.
Pense em vítimas de um determinado contexto ou problema a fazerem parte da criação e da tomada de decisões, apropriando-se da solução encontrada.
Continua confuso?
Vamos ajudá-lo.
Tem de conhecer esta empresa holandesa: a Tolhuijs Design.
Esta marca foi criada por Bastiaan Tolhuijs, um designer holandês especializado no upcycling (mais à frente veremos o que isto realmente significa).
Já em criança, Bastiaan revolvia caixotes de lixo à procura de tesouros perdidos. Hoje em dia, o fascínio por aquilo que é deitado fora continua ainda mais forte, demonstrando-nos que o fim do ciclo de vida de um objeto pode ser sempre reinventado.
Com formação académica na área de Design Industrial, Design de Produto e especialização em Tecnologia de Desenvolvimento Sustentável, na Universidade de Delft, Tolhuijs conta ainda com um riquíssimo percurso profissional e pessoal, que inclui, por exemplo, o desenvolvimento de soluções sustentáveis na área da segurança e vedações, o primeiro prémio de um concurso da UNICEF pela solução inovadora na resolução dos problemas mundiais da água e do saneamento, a escrita de A book full of rubbish, em 2018, sobre upcycling, ou até uma viagem ao Mundo durante um ano, na qual conheceu locais tão diferentes como as Honduras, o Nepal ou Madagáscar.
Certamente resultado deste seu trajeto, tem como lema: «Every product must tell a story, this story must amaze, educate, and inspire.» (Qualquer objeto tem de contar uma história; esta história tem de deslumbrar, educar e inspirar.)
E a história da Tolhuijs Design tem de ser contada, porque é inspiradora.
Esta marca sediada em Amesterdão transforma o lixo em luxo e trabalha de mãos dadas com pessoas também elas consideradas por muitos como lixo: os reclusos. Por isso, a sua produção é feita, tanto quanto possível, em oficinas para inclusão social e prisões, promovendo a aprendizagem de ofícios, a reintegração no mercado de trabalho e a construção de um novo projeto de vida.
Eis a missão da Tolhuijs: começar pelo ponto de partida. E o ponto de partida não são os projetos de design, mas aquilo que se tem em mãos (os materiais que deixaram de ser necessários, os desperdícios, os resíduos, o lixo, …), passando depois para a fase seguinte: a criação de peças únicas, reais e cruas, e que não escondem o seu passado.
Detenha-se a admirar o candeeiro SPOOL
e o candeeiro BENDY
Estes não são apenas candeeiros, iguais a tantos outros no mercado. São mais do que isso.
Numa outra vida, o candeeiro SPOOL foi uma bobina que já pertenceu a uma máquina de solda e o candeeiro BENDY era — pasme-se — um poste de uma cerca.
Felizmente, livraram-se da sucata e podem estar em qualquer casa, na sua casa, com uma vida útil e longa pela frente! Por vezes, basta olhar de forma criativa e saber fazer mais do que reciclar.
Reciclagem vs. Upcycling. Qual é exatamente a diferença?
Estas práticas não têm o mesmo significado, nem tão-pouco o mesmo impacto. Upcycling é a versão melhorada e avançada da reciclagem: quase a versão pro.
Quando reciclamos, estamos a transformar o resíduo na matéria-prima de origem, para ser usada novamente. Por exemplo, derretemos garrafas de vidro e transformamo-las em novas garrafas de vidro. E, não esqueçamos, gastamos energia e desperdiçamos material neste processo.
Pelo contrário, o upcycling dá um passo mais à frente, reutilizando um objeto sem desperdiçar materiais ou gastar energia durante o processo e prolongando-lhe a vida útil. Ou seja, propõe o reaproveitamento de objetos, com criatividade e respeito pelo meio ambiente, criando novos produtos, muitas vezes com funções diferentes, mas sem alterar as características principais do objeto original.
Por essas razões, o upcycling supera a reciclagem e é a nova tendência nos dias de hoje.
Com exemplos como o de Tolhuijs Design, quem ganha somos todos nós.
Artigo de Catarina Pereira