Neste domingo, dia 26 de março, chega finalmente a hora de verão.
Alguma vez se perguntou por que razão “mexemos” nos relógios duas vezes por ano?
Porque temos hora de verão e hora de inverno?
E será que esta mudança horária é seguida em todo o mundo?
Daylight Saving Time
Todos os anos, nas primeiras horas do último domingo de março, 60 minutos desaparecem do relógio! Não, não é um truque de magia: é o regresso ao horário de verão!
A hora de verão (ou Daylight Saving Time, como é conhecido em muitas partes do mundo) foi criada para fazer melhor uso das longas horas de luz solar do verão. Ao avançarmos uma hora no relógio, passamos uma hora de luz do dia da manhã para o final do dia. (No primeiro domingo de novembro, "recuamos" e “rebobinamos” os nossos relógios para regressar à hora padrão.)
Na Europa, a hora de verão decorre desde o último domingo de março até ao último domingo de outubro. No hemisfério sul, onde a época de verão começa em dezembro, a hora de verão é reconhecida de dezembro a março. (Curiosidades: O Quirguistão e a Islândia têm a hora de verão durante todo o ano; os países equatoriais nunca têm a hora de verão, e já vamos ver porquê.)
Mudança de hora no mundo
Embora a adoção do horário de verão tenha sido já objeto de controvérsia, a maior parte do mundo (excepto os países em torno da linha do equador) implementou a DST num ou noutro momento da história.
Atualmente, cerca de 70 países utilizam o horário de verão em pelo menos uma parte do país. O Japão, a Índia e a China são os únicos grandes países industrializados onde não há nenhuma forma de horário de verão.
A hora de verão é muito útil para aqueles que vivem mais longe do equador, onde as horas de dia são muito mais longas no verão do que no inverno. Em locais mais próximos do equador, o número de horas diurnas e nocturnas é quase o mesmo ao longo do ano.
E é por isso que muitas cidades e países equatoriais não seguem a hora de verão: não precisam! Nos Estados Unidos, há alguns locais que também não têm, incluindo zonas do Arizona, Hawai, Porto Rico, Ilhas Virgens Americanas e Samoa Americana.
Parlamento Europeu e o fim das duas mudanças de horários anuais
A Comissão Europeia revelou a sua proposta de abolir as mudanças de hora em setembro de 2018, na sequência de uma consulta pública em que 84% dos 4,6 milhões de cidadãos europeus inquiridos apelaram ao fim desta prática.
A proposta foi aprovada pelos eurodeputados na primeira metade de 2019, mas ainda não tem data prevista para ser implementada.
Por agora, caberá a cada Estado-Membro decidir se quer aplicar a hora de verão ou não.
No entanto, em Portugal, é pouco provável que esta novidade se faça sentir, uma vez que o Governo assumiu a vontade de manter o regime atual, que prevê que os relógios sejam adiantados e atrasados uma hora, no último domingo de março e outubro, respetivamente.
Na base desta decisão está um relatório científico do Observatório Astronómico de Lisboa, que adianta que as vantagens das mudanças de hora superam as desvantagens em território nacional e que:
«a cessação da Hora de Verão teria, em duas situações: a) mantendo a hora UTC todo o ano, ter-se-ia o sol a nascer perto das 5h na altura do verão, ou seja, uma madrugada de sol desaproveitada seguida dum final de tarde com menos 1 hora de sol, fatores que não são positivos nas atividades da população; b) mantendo a hora UTC+1 todo o ano, o sol nasceria entre as 8h e as 9h durante 4 meses do ano, no inverno, com impactos negativos.»
Mudança de hora: como tudo começou?
Sim, esta pergunta continua por responder. Afinal, por que motivo atrasamos ou adiantamos os ponteiros do relógio 60 minutos todos os anos?
Tudo começou com um objetivo muito específico: poupar energia.
A ideia foi sugerida pela primeira vez num ensaio de Benjamin Franklin, em 1784 (posteriormente proposta ao Parlamento britânico pelo inglês William Willett, em 1907).
Em 1784, Benjamin Franklin propôs que as pessoas acordassem mais cedo, o que permitiria uma poupança considerável nas velas, que eram o principal meio de iluminação em todo o mundo antes da electricidade. Isto porque, caso se levantassem mais cedo, as pessoas conseguiam aproveitar mais horas de sol e, como tal, poupar no consumo de energia, ou seja, de velas.
A sua ideia não teve qualquer recetividade, quer dos governos, quer da sociedade científica, mesmo depois de enviar, em 1784, uma carta (An Economical Project for Diminishing the Cost of Light) ao Jornal de Paris, sobre a economia em cera de vela caso se adotasse esta extravagante medida.
Mas esta ideia, de que Benjamin Franklin era um dos principais impulsionadores, só viria a ganhar força mais de cem anos depois, na Primeira Guerra Mundial.
Para poupar combustível, escasso e racionado na altura – tal como muitos outros bens essenciais –, a Alemanha e a Áustria resolveram prolongar a luz do dia ao alterar a hora na Primavera.
Naquela época, o uso de energia elétrica era limitado e a maioria das lâmpadas funcionava com óleo ou gás. A mudança de hora permitia que as pessoas aproveitassem melhor a luz do sol, economizando energia e recursos.
Desta forma, foi o Império Alemão o primeiro a avançar oficialmente com a mudança de hora. Foi em 1916, em plena Primeira Guerra Mundial, e a medida foi influenciada pelo esforço da guerra e pela poupança de energia, sendo o carvão o principal meio disponível.
O Império Austro-Húngaro e a Inglaterra foram os primeiros a seguir o exemplo, e pouco tempo depois seria a vez de outros países adversários, entre os quais Portugal.
Em resumo, a mudança de hora foi uma medida importante durante a Primeira Guerra Mundial para economizar energia e recursos num momento de escassez.
Quando foi a primeira vez que mudou a hora em Portugal?
Portugal, que desde 1911 seguia a hora de Greenwich, atrasou os ponteiros dos relógios pela primeira vez a 17 de junho de 1916 (para fazer a operação oposta a 1 de novembro).
Contudo, nem sempre Portugal seguiu o horário de verão ou sempre as mesmas datas. Até à década de 1990, Portugal saía da hora de verão em setembro. Hoje, as mudanças são sempre nos últimos domingos de março e de outubro, segundo diretivas da União Europeia.
Nos EUA
O horário de Verão foi originalmente instituído nos Estados Unidos durante a Primeira e Segunda Guerra Mundial, a fim de aproveitar as horas de dia mais longas e poupar energia (carvão) para a produção da guerra.
Nos anos após a Segunda Guerra Mundial, os diferentes estados decidiam se queriam continuar a respeitar o horário de verão e quando o deveriam fazer. Isto significava que algumas cidades estavam uma hora atrás de outras, embora estivessem apenas separadas por alguns quilómetros num mapa.
A fim de minimizar a confusão, o Congresso aprovou o Uniform Time Act em 1966, que padronizou a duração do horário de verão para todo o país.
Andamos há mais de um século a atrasar e adiantar os relógios e, no próximo domingo, não é exceção: à 1:00 adiante o relógio 60 minutos.
E não se esqueça: todas as horas contam!
Artigo de Catarina Pereira